Só estava se preparando para o que viria a seguir.
Pezinhos minúsculos, coraçãozinho batendo rápido, um choro estridente e uma morte iminente.
Foi assim que começou, Eliza tinha 23 anos, uma jovem linda, de olhos castanhos determinados, e o cabelo curto, devido ao tratamento de quimioterapia. Isso mesmo, Eliza já havia vencido o câncer uma vez, à mais ou menos, 1 ano atrás. Uma luta difícil, mas que foi vencida graças ao apoio de sua família e amigos, e agora, Eliza vive uma vida normal, terminou a faculdade de jornalismo e trabalha na sua área, numa empresa pequena, mas faz o que gosta.
E começou a namorar, um jovem encantador, que conheceu em um bar, quando saiu com as amigas. Seu nome é Henrique, e ele tem 27 anos, é cozinheiro em um restaurante de alta classe na zona sul de São Paulo.
Eliza não podia estar mais feliz, já iria completar 3 meses com Henrique, e ele havia preparado uma surpresa especial para ela.
_ Onde nós iremos? - Perguntou Eliza. Ela estava vendada, no carro de Henrique, e só podia sentir as leves curvas da estrada, mas não tinha a menos ideia de onde ele a estava levando.
Enquanto isso, Henrique estava ansioso, não sabia o que esperar, ou qual seria a reação de Eliza, ele simplesmente deu "um tiro no escuro". É, definitivamente seria uma surpresa e tanto.
O carro finalmente parou, Eliza ia tirando a venda, mas Henrique a impediu:
_ Ei, não vale espiar, vamos lá, estamos quase chegando.
Ele a ajudou a sair do carro.
_ Ok, agora me da sua mão e cuidado para não cair hein?
_ Ta bom, eu vou aonde você me levar. -respondeu Elisa.
_ Você confia em mim? - Perguntou Henrique.
_ Totalmente. -Respondeu Eliza. - é só não me deixar pisar num buraco e cair, porque "tô" de salto alto. - depois de uma risadinha, Henrique a beijou profundamente, depois disse, com a boca ainda em seus lábios:
_ Nunca deixarei você cair. Agora vamos, precisamos andar logo.
Eliza deixou que ele a guiasse, e como prometeu, ele a levou em total segurança.
Eliza percebeu que entraram em um lugar com temperatura ambiente, e um perfume suave e adocicado, parecia agradável, e se sentiu confortável, mesmo após a viagem de duas horas, sem poder ver absolutamente nada.
Henrique a pegou pela mão e a guiou novamente, dessa vez ela percebeu que entraram em um elevador, e não estavam sozinhos.
_ Onde você está me levando? -sussurrou Eliza, com um misto de excitação e vergonha, por, provavelmente ser a única mulher vendada num elevador, mas Henrique apertou de leve sua mão:
_ Shh, confie em mim, acho que você vai gostar. - E deu uma leve risadinha marota.
A ansiedade crescia em Eliza à medida que o elevador ia subindo, parecia não ter fim.
Quantos andares será que tinha, o prédio onde eles estavam, e o que seria esse prédio? Ela tinha uma leve suspeita.
Por fim, saíram do elevador, e ele a guiou até certo ponto, depois ela só ouviu o barulho de uma fechadura de porta sendo destrancada, e mais uma vez, a mão de Henrique a guiou porta à dentro.
_ Não tire a venda ainda. - Ele disse, um tanto distante.
Ao mesmo tempo Eliza ouvia barulhos de vidro, batendo um no outro, uma torneira ligada, e alumínio sendo amassado.
"O que será que ele está aprontando?" Ela pensou, mas se distraiu com o aroma do ambiente em que ela estava, era perfumado, tinha cheiro de rosas, e parecia mais aconchegante do que o ambiente anterior, que agora ela suspeitava ser uma recepção. Mas uma recepção de onde?
De repente ela sentiu a mão de Henrique em seus ombros, o que lhe causou um pequeno sobressalto.
_ Calma, sou eu, pode tirar a venda agora.
Ela então puxou o delicado pano de cetim para baixo e vislumbrou maravilhada o cenário que a rodeava.
Era simplesmente perfeito, a primeira coisa que viu, foi a cama, enorme, branca, com muitas pétalas de rosas espalhadas por ela, viu também que havia varias velas aromáticas espalhadas pelo imenso quarto, e que eram a única iluminação do local, observando mais o ambiente ela pôde ver, que no chão de madeira polida, também havia pétalas de rosas espalhadas, na verdade estavam por todo o quarto. Eliza estava tão maravilhada por esse ambiente que resolveu explorá-lo. Mais à frente encontrou uma mesa redonda, de vidro, com apenas duas cadeiras, e com vinho em um balde de gelo, e diversos bombons embrulhados em embalagens vermelhas.
Mais à frente viu o banheiro, que tinha uma enorme banheira, com azulejos totalmente brancos e bem cuidados, foi aí que viu as janelas, eram enorme e cobertas por uma cortina branca, mas transparente, porém como já estava escuro, ela não podia ver onde estavam, foi só quando chegou bem perto e as abriu, que ela viu, que estavam na cobertura de um prédio, de frente para o mar.
Ela olhou rápido para Henrique, que a observava fixamente com duas taças de vinho na mão, esperando pela reação dela.
_Onde nós estamos? - foi a primeira pergunta.
_ Nós estamos, na cobertura de um hotel em Santos. - ele respondeu entregando a taça de vinho.
_ Não acredito que você fez isso... - ela disse tomando um gole do vinho suave.
_Claro que fiz! Eu queria que essa data fosse especial, para te mostrar o quanto esse tempo que passamos foi e está sendo especial para mim. Eu te amo desde de o momento em que te vi, e quero te mostrar da melhor maneira que eu puder! Você merece!
Eliza já estava em lágrimas de emoção:
_ Você é doido - disse isso com um leve sorriso, ainda sem acreditar no que ele tinha feito por ela.
_ Você não gostou? Ele perguntou meio ansioso.
_ O que? Você está brincando! Eu amei! Você não existe...
Sem mais demora Henrique beijou-a, tão lenta e intensamente, tomado pela emoção e os dois se entregaram um ao outro, noite a dentro.
Quando lembra dessa noite, Eliza sente todas as emoções que sentiu naquela ocasião, basta fechar os olhos, e tudo vem à tona. Um momento eternizado em sua memória, algo que ninguém pode tirar dela, algo que faz parte de seu próprio mundo particular, que não vai morrer nunca, mesmo nos últimos momentos de vida.
O fim de semana, dela foi o melhor de sua vida. Sabe, as vezes as coisas boas vem sem dívidas, mas as vezes antecipam tempos difíceis, talvez isso ocorra para nos preparar, ou para nos mostrar quem somos e o que queremos, é difícil saber. Mas voltando à história, Eliza já voltara a sua rotina habitual, e estava saindo para o trabalho, uma manhã amena, com um solzinho até, mas daquele que não esquenta.
Ela estava colocando a blusa, quando notou as manchinhas em seu seio, ela já havia percebido isso antes, mas viu que elas estavam maiores. Sentiu um gelo na espinha, já havia visto isso antes, ma não podia ser.
Sem demora vestiu a blusa e foi diretk para o hospital.
Ela precisava saber se sua suspeita era verdade, o trabalho podia esperar nesse caso.
Após três horas esperando para ser atendida, mais duas para fazer os exames, veio a conclusão, o cancer que ela tanto lutou para vencer, voltou com mais força.
_ Mas como? - ela perguntou.
_ Infelizmente, quem já teve câncer, mesmo que ja tenha sido dado como curado, ainda há uma chance muito grande de que ele volte. - respondeu ele - infelizmente isso ocorre em 45% dos casos, e infelizmente a senhora se encaixou nessa porcentagem, eu sinto muito.
Eliza não podia acreditar, seus exames deram positivo para câncer de novo, ela estava tão perplexa que ficou sem palavras por um momento.
_ Então, vou ter de passar por tudo de novo?... meu Deus, não acredito que vou passar por tudo de novo... - ela estava quase chorando à essa altura.
_Calma senhora Eliza...- disse o médico.
_ Como posso ter calma, vou passar por tudo de novo? Não entende, agora que já havia me recuperado... eu... não pode ser...
_Calma, a senhora responde bem aos tratamentos, e tem grande chance de se curr novamente, só preciso que você tenha coragem e força para enfrentar isso de novo, pois ninguém podia prever isso, foi uma infelicidade. E com o apoio que você tem, conseguirá se livrar disso mais uma vez.
_ ... Sim ... coragem e força eu tenho, e já estou familiarizada com o tratamento, e não há outro jeito não é? - Respondeu, porém a pergunta foi retórica, pois ela sabia que tinha de fazer isso novamente, ou se entregar para a doença de vez, e isso ela não faria. Mas o que ela estava sentindo nesse momento, era muito diferente da expressão vazia que apresentava ao médico, ela estava angustiada, queria gritar e chorar e perguntar porque ela deveria passar por isso de novo, porque tinha de ser com ela, o que ela fez de errado nessa ou na outra vida para merecer isso, esse castigo de Deus, ou até mesmo se Deus existia ou se era tão ruim para permitir que as pessoas passem por isso, ainda mais duas vezes.
A cabeça dela estava num turbilhão, com mil pensamentos vindo ao mesmo tempo, e ela não conseguia se concentrar em nenhum específico, a não ser em, Rafael, a melhor coisa que havia acontecido na vida dela, e agora ele teria de assistir a ela definhar aos poucos, e ficar preso, até o amor se tornar pena e acabar com tudo que os dois construíram em tão pouco tempo.
Mas não, agora ela não podia pensar essas coisas, ela tinha de ser forte, e lidar com uma coisa de cada vez.
Como que por reflexo, seu corpo relaxou quase que imediatamente, e a pôs em um estado anestésico, os pensamentos fugiram de sua mente e pareciam vozes distantes que somente ela podia ouvir.
Foi o médico quem quebrou seu estado de transe e a fez voltar ao presente -
_ Senhora Eliza? Nós podemos retomar o tratamento amanhã de manhã, se a senhora desejar, quantl antes começarmos, mais cedo a senhora se livrará desse câncer, mais uma vez. Tudo bem pra senhora?
Ao ouvir isso, Eliza reagiu imediatamente. Claro que queria se livrar o mais rápido possível disso, novamente, e concordou em começar o tratamento.
Só faltava saber, como ela iria contar a Rafael, que o câncer que ela tanto lutou para vencer, voltou para assombrá-la.
À noite, quando Henrique foi vê-la, Eliza já estava com um bloco de gelo no estômago, tentando criar coragem para contar à Henrique. Ela tentou disfarçar, tentou agir como s nada estivesse acontecendo, mas não conseguiu fingir por muito tempo.
Quando Henrique à viu, naquela noite, quando estavam no quintal da casa dela, ele percebeu que algo estava errado.
_ O que ouve? Você está bem? Parece aflita amor.
Eliza não conseguia segurar mais, porém, as palavras não saíam, estavam entaladas em sua garganta, então, a primeira coisa que saiu, foram as lágrimas.
_ Henrique, aconteceu ... aconteceu algo...
A essa altura Henrique já estava aflito.
_O que aconteceu Eliza? Me diz, por favor! Foi algo grave?
As lágrimas abriram caminho para as palavras, que vieram do mesmo jeito apertado e angustiado, umas atropelando as outras.
_ eu fui no médico hoje, por uma manchinhas vermelhas que apareceram no meu seio esquerdo, e foram aumentando de uma semana para cá, eu imaginei que fosse... ma não queria... ainda sim fui no médico, mas foi só pra confirmar o que eu temia. E agora...
_Ei como assim? O que é Eliza, você está realmente me deixando preocupado! O que o médico disse?!
Agora o rosto de Eliza assumiu mais uma vez a expressão vazia, que tomara conta dela no consultório do médico, apesar de as lágrimas ainda rolarem.
_ O médico disse... que meu câncer voltou, mais rápido e mais forte... que eu preciso começar o tratamento de novo... o mais rápido possível...
Agora Henrique ficara totalmente sem palavras, estava digerindo tudo o que Eliza lhe contara.
_ Rápido quanto? - ele perguntou.
_ Amanhã... respondeu Eliza, que olhava para frente, mas não via nada.
Henrique, ficou perplexo por uns instantes, quase desmoronou com esse golpe, mas tinha de ser forte, tinha de dar apoio total à Eliza, pois talvez esse seja o momento mais difícil, da vida dela, e ele tinha de estar incondicionalmente, ao lado dela.
No dia seguinte, Henrique levou Eliza para o tratamento, e ficaria com ela lá até o final. O tratamento era horrível, os medicamentos eram forte e cheios de efeitos colaterais, como vômitos, tonturas até a perda de cabelo, mas se fosse preciso ela passar por tudo isso para se ''curar'' do câncer novamente, então que assim seja.
E ao longo de duas semanas, Eliza seguiu com o treinamento, forte como sempre era, mas algo a incomodava, ela estava tendo mais enjôos que o normal, mal conseguia ter algo em seu estômago, nem mesmo água, então ela decidiu procurar o medico, para procurar saber, porque estava enjoando tanto. Eapós um exame de sangue, veio a confirmação:
- Bom, dona Eliza, eu estes exames de sangue, revelaram algo, que particulamente, me deixou perplexo e preocupado. - o dr, Silva disse.
-Mas, como assim? é muito grave? Dessa vez os efeitos colaterais estão mais fortes? - Eliza já estava aflita ao fazer essas perguntas.
- Calma Eliza, isso não tem nada a ver com o tratamento, bom, pelo menos não é a causa de sua preocupação.- ele disse.
- Mas, então o que é?
- Bom, a senhora está grávida.
- Gr,,, grr... grávida?! Mas isso é... é... incrível!!! - ela estava perplexa demais para reagir, e ficou parada por alguns instantes olhando para o medico, sem vê-lo realmente, at´pe que sua ficha foi caindo e ela foi absorvendo a realidade, mas o mais importante é, que não havia preocupações, tudo havia sumido de sua cabeça, o medo, a doença, o tratamento e até mesmo o doutor em seu pequeno consultório branco e limpo. Ela só conseguia sentir felicidade, um filho?! Agora?! Com Henrique?! Isso é perfeito, e iria lhe dar mais força para lutar contra essa doença e vencer, por essa pequena vida em mim.
Eliza não sabia quanto tempo havia se passado, ela só estava lá, abraçando a barriga carinhosamente, até que notou a expressão preocupada do dr. Silva.
- Mas, o que foi doutor? - ela perguntou, mas sem deixar a expressão de felicidade do rosto.
- Bem, eu estou vendo que é um momento muito emocionante para a senhora, mas eu preciso lhe avisar... - disse o dr, Silva meio desconfortável.
- Avisar de que? - a felicidade de Eliza já estava se dissipando, e dando lugar à preocupação.
- Bem, isso não é nada fácil de dizer, mas... a senhora, não vai poder ter esse bebê, a não ser que pare com o tratamento.
Continua!!
Espero que gostem dessa história que eu estou escrevendo!
Texto por: Tata Hoffman
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